por Cláudia Pinto, em Portugal
Está pensando em engravidar? É fumante? Se responder afirmativamente a ambas as questões, saiba que a decisão de deixar de fumar deve acompanhar o seu planejamento de ser mãe. Conheça os riscos que o tabaco pode provocar na gravidez e pense duas vezes antes de optar por continuar a fazer do tabaco, o companheiro permanente do seu tempo de gestação. Tem certeza que quer arriscar a sua saúde e a do bebê?
Estudos realizados recentemente não deixam margem para dúvidas. As mulheres estão fumando cada vez mais, ao contrário dos homens. Na grande maioria dos países da Europa, as mulheres já fumam mais que os homens e começam a fumar, cada vez mais cedo.
Esta realidade serviu de ponto de partida para a conversa que tivemos com a Dr.ª Eduarda Pestana, pneumologista do Hospital Pulido Valente (HPV) e responsável pela consulta de tabagismo deste hospital. "As conseqüências desta realidade serão visíveis daqui a 20 ou 30 anos. A tendência é para que se registre um aumento das doenças relacionadas com o tabaco, o que irá acarretar graves problemas de saúde nas mulheres".
Talvez por isso, este ano, o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado em 31 de Maio, tenha como destinatários principais, os jovens. "Juventude livre de tabaco"é a temática principal deste dia e expressa a preocupação da Organização Mundial de Saúde em estabelecer estratégias de ação para enfrentar este problema de saúde pública.
O Jornal do Centro de Saúde pega neste tema e adapta-o à temática deste mês da rubrica saúde da mulher: "grávidas livres de tabaco". Explicamos-lhe por que ao longo deste artigo.
Tabaco e gravidez: risco eminente
Todos nós sabemos que o tabaco e a gravidez não constituem a combinação perfeita. Os riscos são mais do que conhecidos. "Está provado que o tabaco provoca danos muito significativos, nomeadamente, no que diz respeito à incidência de abortos espontâneos, partos prematuros e a inúmeras complicações durante o parto, desde hemorragias, descolamento da placenta, ruptura prematura de membranas, entre outros. Por outro lado, os bebes de mães fumantes nascem com baixo peso", alerta Eduarda Pestana.
A pneumologista refere ainda a maior freqüência de síndrome de morte súbita infantil que ocorre em recém-nascidos. "Há muitas complicações antes e durante o parto que devem justificar a decisão de deixar de fumar", acrescenta. A vontade de deixar o tabaco deve ser prolongada no tempo. "O problema é que as grávidas que deixam de fumar colocam o problema como temporário", explica Eduarda Pestana.
Se está pensando em engravidar, deve abolir o vício de fumar, prolongando essa decisão a longo prazo. "Todas as substâncias do tabaco passam através do leite materno, o que significa que as mães não devem fumar durante o período em que estão amamentando". Se estiver grávida e pensa que fumar dois a três cigarros não fará mal nem prejudica tanto a sua saúde e a do seu futuro filho, saiba que "fumar menos cigarros faz tanto mal como fumar muito", explica a pneumologista do HPV.
Na verdade, a nicotina é uma substância que apresenta inúmeros problemas vasculares e ao nível da placenta. "Se a mãe continua a fumar, o bebê também fuma, e o mesmo se passa quando nos referimos à exposição ao fumo passivo". Mesmo na situação em que a mãe não é fumante ativa, há estudos que mostram que os constituintes do tabaco dos fumantes ao seu redor passam pelo cordão umbilical e são prejudiciais ao bebê.
Eduarda Pestana vai ainda mais longe nas recomendações que faz às futuras mães. "O ideal é que a grávida esteja num ambiente completamente seguro e sem fumo. Seria exemplar se o companheiro deixasse também de fumar, porque ambos vão ter um bebê em casa e o seu ambiente deve ser o mais seguro possível. O bebê é completamente indefeso e deve ser protegido".
Tratamentos possíveis
Só 30% das mulheres é que deixa, efetivamente, de fumar no início da gravidez. "A maior parte reduz o número de cigarros e há um grupo que deixa de fumar mais tardiamente", adianta a pneumologista. As percentagens não ficam por aqui, pois se sabe que "cerca de 80% das mulheres recaem depois do parto e 70% nas primeiras seis semanas.
Se estiverem a amamentar, ainda se agüentam mais algum tempo porque sabem do efeito nocivo que o tabaco tem ao passar através do leite materno para o bebê. “No entanto, passado o período de amamentação, acabam por recair”. Eduarda Pestana define esta situação como "muito preocupante". Apesar desta evidência, a responsável da consulta de tabagismo do HPV afirma que assiste a poucas grávidas, "o que não deixa de ser curioso porque as futuras mães não têm de ficar na lista de espera e têm acesso a uma consulta imediatamente se o requisitarem".
Os candidatos às consultas de abandono do tabagismo do HPV devem ser referenciados pelo médico que os acompanhe. "O ideal é que a pessoa esteja motivada para deixar de fumar, pois esta consulta é especializada e direcionada para o abandono do tabagismo", conclui Eduarda Pestana.
Riscos associados ao tabaco na gravidez
- Infertilidade. O tabaco reduz os níveis de estrogênio;
- Menopausa precoce, anomalias menstruais;
- A pílula associa-se a uma maior ocorrência de tromboses. As mulheres que tomam a pílula, não devem fumar. A pílula e o tabaco "conjugam" muito mal;
- Os bebês sofrem as conseqüências do fumo passivo. Sabe-se também que os jovens que fumam regra geral, são filhos de pais fumantes. O modelo de base familiar é muito importante;
- Vertente estética: na verdade, as mulheres que fumam têm mais rugas, a pele mais áspera, além dos dentes e dedos amarelos.
Fonte: Jornal do Centro de Saúde
Acessado em: 2008-06-20, 16:16:42